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SOLEDADE SUMMAVIELLE – 25 ANOS DE POESIA


 Soledade Summavielle é natural de Fafe, tendo estudado no Porto, onde também aprendeu canto, vindo a colaborar em diversos concertos de Eurico Thomaz de Lima, na Emissora Nacional, com Sequeira Costa; em recitais de música portuguesa na Radiodifusão Francesa e no Teatro Nacional de S. Carlos.
Aluna do pintor Marques de Oliveira, viria a dedicar-se particularmente à cerâmica.
É contudo a poesia a sua constante maior. Colaborando em jornais e revistas, viria a dirigir a colecção «Convergência» da Sociedade de Expansão Cultural, em Lisboa. Quando da atribuição do Prémio da Academia das Ciências, foi homenageada pelo Cenáculo Artístico e Literário Tábua Rasa.
Estreando-se em 1963 com Sol Nocturno publicou Tumulto (1966); Âmago (1967); Canto Incerto (1969); Búzio (1973); Tempo Inviolado (1977); Movimento de Asas (1984); Escrínio (1987), livros agora reunidos num único volume.
Vinte cinco anos! E parece ter sido ontem que li, pela primeira vez, aquele livro de capa azul, Sol Nocturno lhe chamou a autora, sempre vivido sentido de promessa nunca concretizada na totalidade porque se recriando continuamente.
Eram poemas lindos, de uma poesia líquida e espontânea, moldada a um sentir verdadeiro, comunicativo. Alguns poemas, alguns excertos, ficariam até hoje guardados na memória. Pela singeleza e pela sugestão, pela alegria que traziam, mesmo quando essa força de viver se transformava em melancolia – mas sempre a exaltação do Amor — em cantos onde passavam rumores de Régio e Nobre, sombras de Rosalia e Florbela.
Com regularidade outros livros vieram, ao longo destes vinte cinco anos, confirmar o que Sol Nocturno prometia, reafirmando invariantes.
 A Natureza é, como em Ovídio, a apaziguação do caos. É com a natureza que Soledade Summavielle se identifica, em que três elementos e comparecem subordinados ao fogo, à luz, ao sol, ao calor de uma primavera sempre presente ou antecipada, força vital que rebenta em flores, do bem-me-quer ao nardo, do rosmaninho à gardénia, ou em cores intensas de um verão que se aproxima, inventado pelo desejo nunca cumprido na totalidade porque vivido na apetência de uma plenitude maior.
Saudade é uma constante na poesia de Soledade Summavielle. E se nos primeiros livros é um sentimento de lonjura indefinida, cancioneiril, – «Tão velha, a minha saudade» – que o ritmo dos versos reforça nos mais recentes livros a saudade é já «saudade - dor», «saudade - mágoa». «Um alarme sem nome».
Em finais de 1969, numa referência curta a Canto Incerto, então publicado, citava o poema que dá nome ao livro:


 
«Canto como quem ri, um canto primitivo de iludida.
Canto como quem chora,
Um canto vertical de alma oprimida.
Tão incerto o meu canto, e todavia
É nesses elementos discordantes
que procuro as notas dissonantes
dos acordes perfeitos da harmonia.»


 
Disse então: Fugindo à fascinação puramente lírica Soledade Summavielle cria os seus poemas a partir da própria consciência. Quando a fantasia a arrebata e o poema parece ser pura invenção - e nunca o é -, sentimos que é sempre tendo o mundo por limite que o poema cria o seu próprio espaço.
Diria agora que há por base, em Soledade Summavielle, uma terrível força instintiva que pela poesia se evade, procurando uma transformação, a coesão da matéria e do espírito numa síntese dinâmica: o Amor.
De corpo inteiro corno em Bernardim, convulso e obsidiante como em Soror Mariana; firme e para além da morte.
Não lhe é indiferente o espaço geográfico, partido entre um norte verde, minhoto, de jardins e praias de vento, de natais e infância, e a cidade a que se acolhe, iluminada de amigos, mas também, porque presente ainda não decantada pela memória, cansativa, onde se perdem «sonhos de criança».
A tudo não é estranho a herança  simbolista, que comparece tantas vezes em algumas paisagens de bruma ou crepusculares, na visão tantas vezes disfórica da vida em imagens simbólicas em que é frequente o recurso a sinestesias.
Vinte cinco anos passaram! Soledade Summavielle confirmou a promessa de Sol Nocturno. Os livros ai estão, agora reunidos em volume a que um sorriso radioso dá capa: o da autora. Em boa hora houve «um poeta que a inventou».

 

António de Almeida Mattos
Letras e Letras, 1 de Janeiro de 1989

 
 
ACONTECIMENTO LITERÁRIO
SOLEDADE SUMMAVIELLE
LANÇOU OS SEUS 25 ANOS DE POESIA

 
Soledade Summavielle dispensa apresentações. Ela é «só» a decana dos poetas de Fafe, com nove livros de poesia já editados: uma sensibilidade tocante patenteada ao longo de centenas de páginas; um talento e uma arte impares, dando corpo a textos poéticos que são pequenas pérolas. Ou jóias inestimáveis. Não se pode contestar o seu valor, a sua verve, a sua chama intensa.
Nascida em Fafe, foi cantora e é ceramista e poetisa. Em 1963, lançou o seu primeiro livro poético «Sol Nocturno». Depois da estreia publicou «Tumulto» (1966), «Âmago» (1967). «Canto Incerto» (1969), que foi Prémio da Academia de Ciências de Lisboa, «Búzio» (1971), «Sagitário» (1973), «Tempo Inviolado» (1977), «Movimento de Asas» (1984) e «Escrínio» (1987). Paralelamente, participou nas colectâneas «800 Anos de Poesia Portuguesa» (1973) e «Poetas de Fafe» (1985). Em prosa, que também cultiva com acerado rigor, editou «O Pirilampo do Bairro» (1972) e «Brisa História de uma Andorinha» (1979), tendo efectuado a tradução de alguns livros.
Soledade Summavielle, comemorou as suas «Bodas de Prata» como escritora com a publicação de um grosso volume de 340 páginas onde se reproduzem os versos dos nove livros que publicou até agora a nível de poesia. Com uma sugestiva capa, com bom arranjo gráfico da poetisa, intitula-se o livro «25 Anos de Poesia»» e fica como documento unitário de uma autora com lugar assegurado na história da Literatura deste país.
 A crítica tem sublinhado, em Soledade, urna profunda sensibilidade e uma enérgica recusa a tudo o que não corresponda à vibrante sinceridade do Poema. Enriquecida nos seus vectores líricos, estéticos sentimentais por uma criadora ambivalência que se bifurca num interiorismo sul generis que não se esgota unicamente em si, antes se distende pelo universalismo das coisas, a poesia de Soledade alarga-se por uma temática densa marcada por alguns núcleos-chave: o Amor, primeiramente, a Natureza, a Fraternidade, a Vida, a Morte, o Sonho, a Poesia.
Personalidade poética inseparável da sua poesia, dominada por uma indomável força interior, a autora impôs-se no universo literário português, é preciso que se destaque, como uma «voz original na poesia de hoje» (João Maia), fruto de um modo muito pessoal de ser e de estar na Vida, com tudo o que essa atitude ontológica, existencial e vivencial implica ao nível da própria formulação do discurso poético.
A sua poesia, marcada pois por um vigoroso lirismo e por um rigoroso esteticismo, é uma poesia de encanto, de deslumbramento, de permanente sonho palpitante, de «asas livres» e «fantasia», uma escrita do coração.
«Os versos de Soledade Summavielle têm a palpitação dos sentimentos vividos e sugerem uma visão transfiguradora das coisas» — escreveu, com a sua enorme autoridade, Jacinto do Prado Coelho.
E Luís Forjaz Trigueiros ajuntou, sobre a poesia da autora, aquando da homenagem que lhe foi prestada pelo Cenáculo Literário e Artístico «Tábua Rasa». «Ao atribuir a Soledade Summavielle o seu Prémio de Poesia, a Academia das Ciências de Lisboa reconheceu, ao mais alto nível da cultura portuguesa, uma obra lírica que, por direito próprio, discreta mas profundamente, como é próprio da poesia verdadeira, se tem afirmado como portadora de ressonâncias simultaneamente pessoais e solidárias – isto é, individual e participante».
Discreta mas profundamente, Soledade Summavielle chega até nós aureolada por uma dezena de livros marcados por uma crescente depuração e qualidade, que lhe dão acesso, iniludivelmente, ao estatuto de poeta maior da nossa literatura.


Artur F. Coimbra
Notícias de Guimarães, 13 de Janeiro de 1989

 

 
FOLHAS AO VENTO


 
Soledade Summavielle, que eu já conhecia, antes de partir para Lourenço Marques, e me foi apresentada pelo meu velho amigo e insigne pianista, Eurico Tomás de Lima, é uma grande Poetisa portuguesa.
Entre parêntese:
Por uma questão de gramática, continuo a chamar aos poetas, poetas; e às poetisas, poetisas.
Pois Soledade Summavielle publicou, há pouco tempo, numa linda edição, 25 ANOS DE POESIA — (1963-1988).
São as suas Bodas de Prata Poéticas, que eu reli, com devoção e entusiasmo.
Conheci, no Porto, Soledade Summavielle. Era então uma bonita rapariga, com uns olhos sonhadores, que revelavam muita inteligência e muito talento.
 Já depois de haver regressado ao Porto, contactei-a. Mandou-me os seus livros amor e de idealismo.
Natural de Fafe, estudou na Invicta Cidade, e foi aluna da Academia Mozart.
A sua voz, muito bem timbrada, fez-se ouvir no Teatro-Cinema, de Fafe; no Teatro S. João, do Porto; no Casino, da Póvoa de Varzim; no Salão Nobre do Orfeão, do Porto; e no Teatro de S. Carlos, de Lisboa.
Colaborou em concertos de Eurico Tomás de Lima, ao lado do Lisboa. pianista Sequeira Costa, e em recitais de música portuguesa, na Radiodifusão Francesa, em Paris.
Como Poetisa, o seu livro CANTO INCERTO, de 1969, ganhou o Prémio da Academia de Ciências, de Lisboa.
Mas hoje vou falar da Poetisa, embora rapidamente.
Soledade Summavielle, autora festejada de 9 livros de poemas, é um temperamento vibrátil, amoroso, rico de emoções - que sabe transmitir, fundamente, o que lhe vai na alma.
E nós, ao sentir esse temperamento vibrátil, amoroso, rico de emoções, nos seus grandes ou pequenos poemas, no lirismo dos seus versos, não podemos deixar de reconhecer que Soledade Summavielle é uma Poetisa sincera, emotiva, uma grande Poetisa, em suma.
Moderna sem ser modernista, transmite-nos, a vibração da alma de Artista, que nos deslumbra e aquece.
 
Vou transcrever um poema, que diz bem do meu entusiasmo e da minha admiração:


 
REGRESSO
«Nunca é tarde nem cedo. Quando chegas
E bates a esta porta fechada,
Dispo o meu desalento
E respiro-te exausta, angustiada,
Como se fosses vento.
 
Ó meu amor, se eu sei que a vida é feita
De imprevistas partidas e chegadas,
E sempre cada um volta sozinho,
Como não festejar o teu regresso?
Preciso é não esquecermos o caminho...
 
Quando vozes astrais o anunciam
E a cor da tempestade o ameaça,
Adivinha-se o amor onde ele esteja.
Não digas nada, abraça.
Não te desculpes, beija.»


 
Fernando Araújo Lima
O Arrais -  Peso da Régua 23 de Fevereiro de 1989

 


LINHA VERTICAL
«25 Anos de Poesia»


 
Soledade Summavielle é uma distinta Senhora e uma ilustre poetisa fafense. O seu primeiro livro de poesia, «Sol Nocturno», foi publicado em 1963. Portanto, em 1988 completou vinte e cinco anos de vida obras: literária. Depois da sua estreia, tão auspiciosa, publicou as seguintes obras:
 «Tumulto» (1956), «Âmago» (1967), «Canto Incerto» (1969), que foi Prémio da Academia de Ciências de Lisboa, «Búzio» (1971), «Sagitário» (1973), «Tempo Inviolado» (1977), «Movimento de Asas» (1984) e «Escrínio» (1987). Paralelamente, participou nas colectâneas «800 Anos de Poesia Portuguesa (1973) e Poetas de Fale (1985). Em prosa editou «O Pirilampo do Bairro» (1972) e «Brisa -História de urna Andorinha» (1979).
Traduziu obras de Jacques Chavar, Patrick Saint Lambert e de Dielette.
Assinalando o feliz acontecimento das suas Bodas de Prata como poetisa e escritora, Soledade Summavielle reuniu em volumes de 340 páginas os poemas dos nove livros publicados.
Este volume tem uma excelente apresentação gráfica e constitui, por assim dizer, um verdadeiro escrínio de Arte.
É que Soledade Summavielle é uma poetisa de rara sensibilidade, com uma capacidade lírica tão acentuada e espontânea, natural, sem artifícios, que os seus poemas são de grande beleza, ricos de interiorismo, de irradiação temática que nasce das coisas, dos seres, dos sentimentos, envolvendo-nos numa toada de ritmo, de sonoridade, de música.
À poetisa atribuiu há tempos a Academia das Ciências de Lisboa o seu Prémio de Poesia, reconhecimento do valor cultural duma obra que prestigia as nossas Letras e honra a linda cidade de Fafe, onde Soledade Summavielle nasceu.
As suas aptidões artísticas evidenciaram-na ainda como cantora e ceramista.
Estamos na presença duma artista de excepcionais qualidades e de uma poetisa com lugar de destaque nas nossas Letras, que a crítica consagrou com toda a justiça.


 
Sousa Machado
Povo de Basto, 1 de Março de1989


 
25 ANOS DE POESIA de Soledade Summavielle


 Natural de Fafe, Soledade Summavielle foi aluna de canto Academia Mozart, do Porto, participando em todos os concertos e serões ali realizados quando frequentava aquele estabelecimento, e cantou depois no Teatro-Cinema de Fafe, no Teatro S. João do Porto, no Casino da Póvoa de Varzim, no Salão Nobre do Orfeão do Porto e no Teatro Nacional de S. Carlos, em Lisboa. Fez ouvir a sua voz em concertos do pianista e compositor Thomaz de Lima, nos «Serões de Outono» da Emissora Nacional, ao lado do pianista Sequeira Costa, e em recitais de música portuguesa na radiodifusão francesa, em Paris.
Além do Canto abraçou as Artes Plásticas, tendo sido aluna do pintor Marques de Oliveira e dedicando-se particularmente à cerâmica.
 A sua cultura e a sua vocação poética fizeram-na directora da. Colecção de Poesia «Convergência» da Sociedade de Expansão Cultural, que teve como principal sócio e administrador o grande escritor que foi Domingos Monteiro.
Como prosadora publicou «O Pirilampo do Bairro», já apreciado num dos números deste semanário, e «Brisa - História de uma Andorinha», contos banhados de ternura e que bem revelam a fina sensibilidade da autora.
Com poemas incluídos em várias antologias e dispersos por jornais e revistas, Soledade Summavielle deu a público, de 1963 a 1987, nove livros de Poesia, um deles CANTO INCERTO, merecedor do Prémio da Academia de Ciências de Lisboa. Em boa hora reunidos estes volumes num só, o comemorativo dos «25 ANOS DE POESIA».
O que é Poesia, como se anuncia e instala na alma para lá demorar sozinha a definir-se e a impor-se até que razão e estética a expressam beneficiando outras almas, dá fiel notícia Soledade Summavielle em muitas das suas composições destacadamente em «Insónia», de MOVIMENTO DE ASAS, como dá notícia de si, principalmente em «Sim à Vida», de SOL NOCTURNO, «Mar», de ÂMAGO, «Rosto» e «Biografia», de CANTO INCERTO, «Retrato» e «Liberdade», de MOVIMENTO DE ASAS. E, a quanto informa de como nela acontece Poesia e a quanto diz de si mesma, corresponde todo o poemar. Coerência a garantir autênticos os motivos de inspiração e os fenómenos por eles desencadeados na sua alma de poetisa que, ao perceber o estado emocional, de pronto é sentida por fértil imaginação para expressá-lo sob o controlo da inteligência e revestido de beleza.
As vibrações da lira que nela habita são alimento da alegria de viver, tal o revelam os seus versos, sejam tónica o amor, a tradição, a terra natal, a família, o sonho, a religiosidade. E Soledade Summavielle ama a vida porque sabe reparti-la entre saudade e esperança, colhendo de cada momento, o despertar de uma e outra. Daí que, na maioria dos casos, a sua Poesia surja com sinais da nobreza daqueles estados de alma sem prejuízo da tónica dominante, antes reforçando-a.
Romântica porque exprime, sobretudo os sentimentos, porém liberta dos excessos da decadência; romântica quanto ao fundo, esta poetisa situa-se, quanto à forma, na modernidade.
Agradável concluir, após a leitura de «25 ANOS DE POESIA», ser aplicável à sua produção anterior e só agora minha conhecida, a opinião que noutros órgãos emiti, a propósito de MOVIMENTO DE ASAS e de ESCRÍNIO, sobre a inspiração e a arte poéticas de Soledade Summavielle, pois desde sempre bem conseguida a sua poesia, porque acertada a eleição do vocábulo, quer no aspecto semântico, quer no fónico, porque claro e perfeito o desenvolvimento da ideia no curso do poema onde o ritmo e a musicalidade, o recorte do verso e o arranjo estrófico estão em plena harmonia no reflectir exacto do acontecer anímico, a metáfora embeleza o dizer e o jogo dos contrastes lhe realça o sentido.
Por tudo isto e porque o encanto da sua mensagem demora na alma do leitor, beneficiando-o, não hesito em situar Soledade Summavielle, como poucas outras, em lugar cimeiro da Poesia Portuguesa Feminina.


 
António de Esteves Alves Martins
Rio Maior, 18 de Outubro de 1990

 

Críticas ao Livro 25 Anos de Poesia

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