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“É este o título do último livro de autoria da poetisa Soledade Summavielle, ora saído e que acabamos de ler. Com ele vem a sua ilustre autora pôr fim ao intervalo que já durava seis anos desde o «Tempo Inviolado», que vai já na sua segunda edição.

Nada nos surpreende neste novo trabalho da grande poetisa fafense, antes se nos confirma toda a dilatação do talento congénito que se lhe reconhece, e se sabe vertido nas maravilhosas estrofes que nos vem legando através de uma admirável obra que, em «Movimento de Asas» vemos dedicado «Áquele Amor-Perfeito que soube inventar, a que deu forma, vida e coroou…»”

«Justiça de Fafe, 26-1-1984»

 

 

 

         “Soledade Summavielle é uma distinta mulher de letras portuguesa que tem feito (e publicado), quase exclusivamente, poesia, género literário em que, desde que deu a público o seu primeiro trabalho, o volume da poesia intitulado «Sol Noturno», em 1963, não tem cessado de se afirmar, positivamente, pela comunicatividade e pela frescura do seu lirismo, confirmadas em tudo quanto, desde aquele seu livro de estreia, tem surgido no vasto panorama das letras nacionais. Um dos seus livros de poesia, «Canto Incerto», datado de 1969, obteve o prémio da Academia das Ciências de Lisboa, o que diz bem da qualidade do seu estro.

         Cm o seu volume intitulado, liricamente, «Movimento de Asas», o seu lirismo de Soledade Summavielle voltou, agora, a afirmar-se, persuasiva e cativamente. Num país de poetas, em que o sexo feminino emparceira, galhardamente, com o masculino, o caso desta poetisa nada tem de especial e extraordinário, como simples acto de manifestação poética. Justifica, porém, especial registo, dado o alto nível alcançado por uma poetisa que se tem demarcado, notavelmente, da vulgaridade, produzindo uma obra em que a chispa do talento não tem cessado de fulgurar. O caso de Soledade Summavielle é, pois, daqueles que impõem o louvor merecido por quantos poetas se têm esforçado, com êxito, por remar contra a maré da banalidade, rimada ou não, que vem campeado, desde há muito, no seio amplo da poesia portuguesa.

         «Movimento de Asas» é, por todos os títulos, uma colectânea de composições eminentemente poéticas e especificamente líricas em que a inspiração da autora se desentranha por modo a convencer os mais cépticos de que a boa poesia continua a ser cultivada entre nós por espíritos a quem o prosaísmo da vida não debilita nem sequer embacia. Há composições, como «Ressaca», que entroncam, positivamente, no melhor e mais representativo lirismo português. Consola verificar que, longe de se renderem à investida da antipoesia, os nossos poetas, como Soledade Summavielle, se mantêm na brecha dos combatentes a favor do prestígio da típica poesia portuguesa, que é, sem sombra de dúvida, a lírica.

         Saúde-se, pois, com este aparecimento de «Movimento de Asas», a vitoriosa continuidade de um movimento poético que um modernismo absurdo, ou, pelo menos, impertinente, não consegue, nem conseguirá jamais, levar de vencida. A edição deste volume de Soledade Summavielle é da Editora Pax, de Braga.”

 

HUGO ROCHA

«Comércio do Porto», 25-2-1984

 

 

        

“«MOVIMENTO DE ASAS» é o nono livro da conhecida poetisa Soledade Summavielle.

Sempre na oposição a uma «estética valorizada» de cabeça enterrada na areia como abstruz senão no retrocesso, pelo menos de resultado duvidoso em voga nos últimos anos nos meios académicos e por certo virá a construir o «Período Barroco» do século XX, Summavielle publicou em 1963 «SOL NOCTURNO», cuja poesia, no ponto de vista «formal» não dispensou as regras ou licenças poéticas, de um preciosismo intocável, no que diz respeito ao uso de algumas «estrofes» de rigidez fixa, tais como o «soneto» ou ao uso de uma sonoridade artística em muito dependentes do «ritmo», da «rima» ou mesmo da «métrica» tradicionais. Num ponto de vista «significante» apreesenta certos laivos de força anímica, de timbre inconformista, que podem uma vez ou outra fazer lembrar Florbela Espanca.

Na mesma esteira, de um lirismo sentimental acutilante, surge  em 1966 «Tumulo», «Amargo» e num período mais alargado, em 1969 «Canto Incerto», que lhe valeu o Prémio da Academia de Ciências de Lisboa.

«Búzio», «Pirilampo do Bairro» e Sagitário», publicados respectivamente em 1971, 1972 e 1973 são livros  em que a poesia aparece já completamente liberta de qualquer colete de forças, às regras de cartilhas tradicionais, relativas unicamente ao ponto de vista formal.» Quanto ao «conteúdo» a poesia continua à revelia do «niilismo» surrealista do génio académico português, cuja liberalização universitária, por comodidade ou falta de imaginação, não ultrapassa a imaginação de uns tantos visionários que, com André Berton, Paul Eluard e Louis Aragon, lançaram o insólito manifesto surrealista, já por alturas de 1924.

«Tempo Inviolado», já em 1977, com as mesmas características «formais» dos anteriores, revela uma pacificação da alma com a vida ou uma espécie de predisposição estóica de acordo com o sofrimento sempre, inevitável e possível.

Em «Movimento de Asas», agora publicado, é frequente a sugestão de que basta a realidade psíquica, intensamente vivida, para que o objecto exista ou a acção se realize. O aspecto «Ontológico» aqui está presente numa espécie de delírio alucinatório, que tomado pelo sujeito como real, não admite qualquer crítica. Vê-se bem esta convicção, por exemplo a poesia «O Segredo»: «Sempre inventei as minhas alegrias / E nem por isso deixo de as viver / Empresto à vida o sonho, a fantasia / E um poder de ilusão que bastaria / Para me dar o que desejo ter.”

J. BAPTISTA NUNES

«Jornal da Amadora», 1-3-1984

 

 

“«Asas livres no espaço

Sonho que me procura»

 

Empresto à vida o sonho, a fantasia

E um poder de ilusão que bastaria

Para me dar o que desejo ter»

 

«E sinto-me por vezes algemada

Apenas por ter alma e coração»

 

         Água da fonte pura bem poderia ser o resumo do novo livro de poemas da nossa ilustre conterrânea Soledade Summavielle, aparecido no início do corrente ano e justamente intitulado «Movimento de Asas» (editora Pax). Corrijo: bem poderia ser o resumo, se um livro de poesia pudesse de alguma forma resumir-se. O que não sucede, nem é legítimo que aconteça. Um livro de poesia é o que lá está, para ser lido, desejado, servido gota a gota, orvalho a orvalho, sílaba a sílaba.

         E o que está no mais recente trabalho publicado de Soledade Summavielle é um modo muito pessoal e original de ser e estar na vida, com tudo o que essa atitude ontológica, existencial e vivencial implica, ao nível da própria formulação do discurso poético. Discurso intimista, de marcantes tonalidades líricas, mas sempre um hino à vida, uma alegria de emoção, uma romântica e harmoniosa escrita do coração, de resto na linha mais genuína e sentida da tradição lírica feminina, de um dos expoentes máximos é o exemplo de Florbela Espanca.

         A poesia de Soledade Summavielle é uma poesia de encanto, de deslumbramento, de permanente sonho, dessa milagrosa magia das coisas simples e vibrantes que se constelam na realidade tão singela, palpitante e luminosa que é o AMOR. Poesia da vida e do amor, do frémito e da harmonia, do encantamento e, quiçá, da evasão não assumida, esta, como cobarde fuga mas como necessário reencontro da poesia consigo mesma, da mulher com a sua alma vicejante.

         Confessando embora que não é este o modelo de poesia que perfilho e esporadicamente pratico, tal não me impede nem obstaa que me renda humildemente à tranquilidade premeditada à sinceridade visceral, à espontânea verdade de uns versos que brotam caudalosos e puros, de um coração fadado para a poesia mais calma, terna e loucamente sonhadora que imaginar se possa.

         Creio efectivamente que o melhor «retrato» que Soledade Summavielle poderia ter traçado de si própria e do seu estro, se revela nesta quadra de profundas ressonâncias cristalinas:

 

«Extensa voz que bem se exprime clara

- Fonte, procura ansiosa, devoção –

Voz que estremece tensa em sua chama,

Longa e vibrante em sua exaltação!»”

 

ARTUR FERREIRA COIMBRA

«O Desforço», 1-3-1984

 

 

         A ilustre poetisa Soledade Summavielle revela neste novo livro de poemas a sua natural e surpreendente ascenção no campo artístico. Natural, porque desde a primeira obra publicada se tem afirmado detentora de um raro poder estético e criativo. Surpreendente, porque a maturidade artística da poetisa ganha sempre novas «nuances» de lirismo e de dimensão sentimental.

         Eis uma força intrínseca de arrebatamento ao sonho, aos voos livres no espaço à conquista de estrelas e do «mar azul do céu».

 

«Um estremecimento

E logo um voo ousado

De corajosa altura!

- Asas livres no espaço –

Sonho que me procura!»

 

         A poesia, como o sentimento, transcende-se na liberdade e nas alturas, sem limites, como uma mensagem humana e espiritual. Soledade Summavielle sente-a, mais do que a «evasão», o «frémito, a harmonia» quando a vontade dá à alma a metamorfose do alvaroço, do desejo:

 

«Mas onde a procurar

O frémito, a harmonia,

A evasão, diria

Que só tu podes dar…»

 

         Sim, a poesia transcende-se na liberdade. O poeta é sempre um ser livre, no seu cântico, na apoteose dos seus sonhos, na grandeza dos seus ideais. Apenas a alma e o coração o podem algemar… nas realidades da vida e do mundo a que nunca a sensibilidade poética é indiferente:

 

«A minha estranha forma de ser livre!

Sei que o sou, por direito e vocação,

E sinto-me por vezes algemada

Apenas por ter alma e coração.»

 

         Todos os fenómenos que rodeiam o poeta influenciam a sua arte e o seu ser. O poeta tem a alma e o coração abertos aos mundos objectivo e subjectivo. Soledade Summavielle não consegue «fugir» à saudade, ao ontem e ao hoje da sua vida e sente que há muito refrigério nas belezas do mundo, nas flores, nas estrelas, no afago duma esperança e no alento da sua própria saudade. Sepre bela, uma poesia assim, burilada nas exigências da arte e do amor. Magnífica, mais uma vez, esta ilustre poetisa.

 

«A luz que é sempre viva no templo dos poetas,

Será a força eleita, nem outra a vencerá.»

 

         Surpreendente a sua ascensão. A luz que lhe ilumina o caminho da arte. E não só: da vida. Já o escrevemos um dia: Poetisa e Mulher.”

 

SOUSA MACHADO

«O Comércio de Guimarães», 11-5-1984

 

 

“Soledade Summavielle apresenta, sob a égide da Editora Pax o seu novo livro de poesias «Movimento de Asas» no seguimento da obra iniciada em 1963 com «Sol Nocturno», continuada com «Tumulo» em 1966, «Âmago», em 1967, «Canto Incerto» de 1969, a merecer Prémio da Academia de Ciências de Lisboa, «Búzio» com duas edições em 1971, «Sagitário» de 1973 e reeditado no mesmo ano, e «Tempo Inviolado» a contar também duas edições m 1977.

         Escreveu Fernando Pessoa «Há duas espécies de poetas – os que pensam o que sentem e os que sentem o que pensam». Evidentemente que de acordo com o poeta da «Mensagem», ousamos dizer que é natural da poesia quando se pensa o que se sente, pois então se pensa para que se sinta o que se quer pensar.

         A primeira hipótese dá prioridade ao sentimento, a segunda confirma-a.

         Por nos ser difícil distinguir, em boa poesia, quando uma e quando outra, ouçamos a própria autora do livro em apreço: «Sempre inventei as minhas alegrias / E nem por isso deixo de as viver.» / Empresto à vida o sonho, a fantasia / E um poder de ilusão que bastaria / Para me dar o que desejo ter.», estrofe a revelar como pode ser auto-suficiência a resignação, a confundir a sensibilidade com a inteligência, ocultando se pensado o sentido ou sentido o pensado, bem elaborada que surge rica de conteúdo.

         Já em «Poesia», Soledade Summavielle, nos primeiros versos «Quantas vezes te sinto longe, esquiva, / Se acaso aos meus apelos te recusas / confessa momentos de desejo de poetar não assistido pelo estado de alma, razão do avocar pensamento que emocione. Contrariamente, em «Insónia», ao dizer «Um poema a cantar dentro de mim / O seu forte direito de nascer!», dá-nos conta de algo haver no seu íntimo, tão intenso que não pode ser contido mais que uma noite, noite que representa o ir e vir na definição do sentido ou na busca do pensamento para acerto no exprimir, tempo de agradável perturbação, melhor, turbulência de coração e cérebro na insatisfação de vocábulos, rimas, métricas, ritmos modalidades estróficas, até finalmente nascer a poesia, já acontecida na aventura, porque «…/ Cantou a noite inteira / Até amanhecer…»

         Certo!... A poesia brota do sentir, espontâneo ou provocado, e tanto mais bela quanto menos se aperceber se num, se noutro caso. E em Soledade Summmavielle poesia fala de poesia, da poesia que nela está sempre ou que é ela própria no deleite de criar, sendo aqui aventura o acto criador de sentimento e razão que a projecta, arrastando-nos também, para um novo mundo «Onde me levarão / Em voo clandestino / As minhas asas loucas / Sem rumo e sem destino?», ou neste mesmo mundo mas transfigurado pela sua emoção no espiritualizar o visível na Obra, a própria Obra, para devolução, embelezada, enriquecida, engrandecida, com amor, candura e esperança, a gloriar o Espírito que a possibilitou. Tal caso de «Enleio» onde um romantismo, não decadente, no amar a natureza e suas forças, onde o ritmo embalador da métrica, da censura e da rima, onde a carga semântica dos vocábulos, onde a sonoridade adequada à expressão de cada verso, são alegria de viver e de dádiva generosa de um cosmos que, em agradecer, se retira do paganismo e imbui de religiosidade. Por isso que, finda o hino à natureza e à vida mundanal, porque a esperança de algo mais, de muito mais a iniciar em breve para não mais terminar. Finda o hino ao anunciar que «Na voz alta dos sábios e profetas / Na serenata de um luar macio / Nos corações exaustos dos Poetas, / Há sensação de além, doce amavio…»

         Noutros poemas, e grato seria demorar em cada um se o espaço do jornal o permitisse, há desejos de intensidade só possível na mulher, porque a um tempo acutilantes e dedicados, desejos de plena satisfação em aprazível sonho, e que, depois, se transformam em saudade.

         Mulher, esteta, conseguida no encontro do equilíbrio entre sonho e realidade, conhecedora e amante do bom e do belo, alma repleta de acontecimentos, hábil na utilização do verbo, sincera na expressão do sentir, não admira que Soledade Summavielle ocupe na Poesia lugar de relevo, o lugar de poeta maior.

         Quando as Letras são tão maltratadas em Portugal, quando a maioria procura abastardar a nossa língua, a nossa Cultura, é com grande regozijo que nos debuçamos em obras como «Movimento de Asas».”

 

ANTÓNIO DE SÈVER ALVES MARTINS

         Artes e Letras, «Novo Século», 15-6-1984

 

 

“Soledade Summavielle tem já uma longa obra poética. Este seu livro, Movimento de Asas confirma as suas constantes de um lirismo que enquandra as aquisições da modernidade na moldura bem pessoal de uma arte que, das raízes temperamentais, arranca a flor da originalidade. É esta arte poética que mais apreciamos porque se não confina a seguir sem estro mandamentos seja de que escola for.

Obedecer a uma escola, a preceitos rígidos e externos sem o sopro da inspiração tem sido o estro de muito verso vanguardista (?). Mas quando a inspiração se junta a uma experiência de arte longamente vivida, como é o caso de Soledade Summavielle, a poetisa assume arestas pessoais que constituem sempre a identificação de um escritor. Empresto à vida o sonho, a fantasia, diz Soledade. E é a mescla de sonho e vida que faz a liga dos bons versos.

A temática deste livro passa pelo amor, pela saudade, pela ternura para com os familiares e pelas efemérides que marcam o tempo, como no esplêndido soneto ao Natal (um dos melhores poemas do livro!) onde se incrusta esta jóia: A ladainha branca da saudade / Das coisas belas… A temática do livro ajusta-se a uma forma de ritmos variados em que o antigo não pesa e o moderno se não extravia em rarezas e absurdos.

Movimento de Asas é um livro de tranquilo e resignado sentir em que as saudades se misturam às esperanças num ímpeto de dádiva, participação, fraternidade – constantes essas de outros livros de Soledade Summavielle, eternas constantes de toda a arte duradoura!”

JOÃO MAIA

«Brotéria», Abril 1985

 

 

O destino, velho mago, me fez conhecer o luso-carioca João de Sampaio e Castro, eterno enamorado das noitadas boémias do «Amarelinho» e do «Café Colombo» no Rio de Janeiro. Numa tarde morna de Verão, ele me falou com ternura, da sublime poesia da encantadora poetisa fafense Soledade Summavielle.

Hoje tenho nas mãos o seu livro de poemas «Movimento de Asas» cujos versos me transportaram às paragens do sonho e da beleza. A consagrada poetisa, lembra o estro suave e puro de Cecília Meireles, numa simbiose com Fernando Pessoa.

 

«Meus olhos deslumbrados de surpresa

Cerram-se ao peso intenso da emoção,

E o jardim tem as palmas que merece,

Neste forte bater de coração.»

 

A poesia de Soledade é toda banhada de infinito, veja-se:

 

«As giestas, a urze e o rosmaninho

Dizem-me numa sinfonia calma,

Quanto a própria emoção de uma paisagem

Se deve a um estado de alma…»

 

A filigrama de oiro da poética de Summavielle, se assemelha ao canto do irapuru, que quando canta, as outras aves cessam o pipilo para ouví-lo cantar.”

 

WILSON NOVAIS

Jornal «O Eco», Abril 1986 – Jaquié Bahia - Brasil

Críticas ao Livro Movimento de Asas

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