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“A poesia de Soledade Summavielle enriquece-se de aspectos líricos, estéticos e sentimentais que desabrocham dum interiorismo “sui generis” que não se perde unicamente “em si”, mas distende-se também pelo universalismo das coisas. Atinge um nível elevado e invulgar de lirismo e esteticismo, porque, exactamente, “universaliza” a sua arte com toda a potencialidade anímica.

No seu apelo à poesia: 

Vem até mim, suave, perturbante,

… … … … … … … … … … … …

Tão luminosa em tudo que me cerca,

Tão clara na paisagem, num olhar,

numa saudade, às vezes na incerteza,

no anseio dos sonhos por sonhar…

 

O poeta não se queda absorto quando todos o julgam extático. Vê longes que poucos alcançam, e, mundo interior é uma luta.

 

Prefiro à paz e à calma, um marulhar,

uma inquietação de água corrente.

 

A ansiedade incita aos voos, ao querer, à premência dos sonhos:

 

minhas asas de ânsia,

onde me levais?!...

 

O poeta “Dualidade”, dos mais belos, define, só por si, um temperamento poético de rica sensibilidade e pujança artística.

Soledade Summavielle “triunfou”, mais uma vez com o seu novo livro de poemas.”

 

Jornal “O Desforço”, 22 de Setembro de 1966

 

 

“Um tumulto que se disciplina, eis como se nos afigura a poesia de Soledade Summavielle, neste livro reafirmada. Tumulto é sinónimo de génese, de caos aguardando forma: é algo de interior e de exterior de que, milagrosamente, surge o poema:

 

E de repente, ganha forma, esplende

como um raio de sol precipitado.

 

Pensando noutro plano sugerido pela presente colectânea de poemas, tumulto é ainda a liberdade, mas uma liberdade contraditória com a sua afirmação, pelo menos na medida em que, na Arte, o conteúdo e a forma se combatem, e não existe outra via, senão a do combate, pela qual se harmonizem. São justos, por isso, os versos com que termina o poema “Dualidade”:

 

Afirmando-me mais quando me nego,

prisioneira da minha liberdade!

 

Poderíamos prosseguir assim, buscando nos versos de Soledade Summavielle a sua própria explicação, mas isso seria porventura valorizar demasiadamente uma atenção crítica sobre os próprios instantes criadores que, se é sintoma da disciplina de que, no início, falámos, não oculta o tumulto que afinal é a energia de que toda esta poesia surge criada. A Soledade Summavielle agrada tanto colocar a fonte dessa energia no exterior de si mesma, como o vento que a sustem no ar / como um pássaro louco e angustiado, / batendo as asas sem poder voar, como senti-la como pressão interior, sonho que exalta ao ponto de doer/ (…) carência surda, incomportável, (…) espécie de fome de o viver. Há, assim, um movimento duplo na sua inspiração, ora de aceitação, ora de dádiva, ora de excesso, ora de carência.

Mas a plenitude tranquila também tem, na sua poesia, o merecido lugar. Pode ser que ela surja em passado, mas esse passado é um presente de tão vivido:

 

Nós dois ao longo da praia

como aves de asa suspensa,

a colher todo o azul

duma primavera tensa.

 

Era um desafio ao sol

Sobre mim, o teu olhar…

E eu quase te respirava

como se respira o ar.

 

Ali fui “Estrela do mar…”

“Flor de lume…” e o que mais quis.

Saudosos ecos perdidos

que nunca vos repetis!

 

Também nesta simplicidade perturbadora, nesta correnteza de versos que um frémito pessoal marca, está o que melhor nos revelou este livro de Soledade Summavielle, uma artista que não precisa de malabarismos para se afirmar personalizada e inconfundível.”

 

Mário António

Diário de Notícias, 24 de Novembro de 1966

 

 

Na “Colecção de Poesia: Convergência” acaba de ser publicado o segundo livro de poemas de Soledade Summavielle, uma escritora que se revelara já como grande poetisa, ao publicar “Sol Nocturno”. Há evidentemente progresso quando se compara o primeiro livro com o livro que agora saiu a lume, com o título de “Tumulto”. Há uma enorme síntese de ideias e de sentimentos, uma economia de retórica (tantas vezes indispensável à Poesia) mas que a escritora preferiu desta maneira, para que, em curtos momentos líricos nos desse uma comunhão perfeita com o clima poético que sentiu e nos desejou transmitir, somo sucede, logo no primeiro poema deste livro:

 

Antes que o tempo estanque a voz e a vida,

eu volto a cantar.

Não com aquele acento de pureza

prometido nos meus primeiros versos.

Mas sempre com a íntima certeza

desta sinceridade que lhes dou

- espelho de mim mesma-

coisa que o tempo ainda não levou.

 

Profundamente dramática, esta poesia, surge ao leitor ou ao ouvinte, como que atenuada, no seu fogo interior. A angústia e a interrogação, estão latentes no drama, que é o quotidiano do escritor que sempre afirma a sua sinceridade. Daí que Soledade Summavielle, possa dizer no poema que deu ou serviu de título ao livro:

 

Que voz é esta voz aos meus ouvidos?

Uma voz consistente, verdadeira,

ou apenas o eco que responde

à minha própria voz prisioneira?

Que sonho é este sonho que me exalta

ao ponto de doer

e esta carência surda, incomportável,

esta espécie de fome de viver?

Que vento é este vento que me leva

e me sustém no ar

como um pássaro louco e angustiado,

batendo as asas sem poder voar?

 

Mas a Vida, para Soledade Summavielle, não é uma forma vaga, uma abstracção, um sonho que se sonhou ou viveu de longe. A realidade do dia a dia está no seu lirismo de forma inconfundível. A escritora não confunde arte com panfleto, nem comunhão humana com sentimento fraternal e cristão e assim o acento verdadeiramente belo e humanidade no poema “O Amolador da Minha Rua”:

 

É num dia de chuva que aparece.

Vem sempre tão sombrio quanto o dia.

Monocórdico, lento, vagabundo,

Como o som musical que o anuncia.

 

Tanta vez o encontro à minha porta

E nunca alegre vi seu olhar triste

Cheio de solidão…

De quando em quando insiste

Atirando às janelas um pregão.

 

Enquanto fica à espera de trabalho

Nunca se altera o seu olhar profundo.

Depois desaparece como chega:

Monórdico, lento, vagabundo…

 

E sempre, nestes versos, um acento de esperança, um sentido de confiança na criatura humana, uma paz interior, reflectida naquilo que a vida promete em cada dia que chega, em cada dia que nasce:

 

Os olhos eram cegos…

Queimara-os na insofrida claridade

De improvisada aurora…

A boca, muda agora,

Dera a voz a umas asas que a levaram

Num Voo alucinado…

O lírio das mãos, hoje inclinado

Num gesto de pureza verdadeira,

Entreaberto, lívido, cansado

Dum longo aceno amigo,

Jogara outora a obstinados ventos,

Moedas de oiro dum tesoiro antigo.

Depois enlouquecera…

Para enterrar aquilo que perdera,

Abrira, bem profunda, a sua cova.

Mas vira que das trevas escorria,

O sangue fresco duma aurora nova!

 

Esta poesia de Soledade Summavielle, humana dialogante, lírica, ansiosa, sofrida, dramática. Mas confiante sempre. E esse sentimento de confiança do humano no humano, será das notas mais dominantes deste lirismo puro, sadio, inconfundível.”

 

Amândio César

O Debate, 3 de Dezembro de 1966

 

“Sem pressa, pois já correram três demorados anos – e só assim se tem a certeza da segurança dos passos que se pretende dar, sobretudo nos difíceis caminhos da verdadeira Poesia – Soledade Summavielle que, como poetisa de boa categoria se estreou com um livro de versos recebido com maior agrado e unânime elogio por todos que o leram, a autora apareceu, de novo, com um esplêndido punhado de poemas que são de citar como se fosse a acertada sequência desse primeiro volume. Se o primeiro volume mereceu as elogiosas palavras que o cercaram saudando a estreante, este que é mais do que uma confirmação daquele, marca não só por igual nível atingido, mas também pelo que dá a entender de decisiva firmeza na maneira de exteriorizar o que a sua emotividade lhe impõe.

É de citar um ou outro momento mais belo do livro a que deu o título de “Tumulto”?

Impossível, porque todos os poemas que publica são de absoluta igualdade no modo como os apresenta. São momentos que dominam a atenção dos leitores. Admirável, por exemplo, nas quadras, todas com o sentido exacto do que pretendem definir. E não só nas quadras. Num bom soneto que vive isolado no volume, nos outros poemas em que se desenham estados de espírito, inquietação, sombras de ternura e de suavidade que se destinam a percorrer o caminho das poesias procurando amparar e vincar o séquito de imagens que acompanha a autora da ansiedade que a leva a entregar-se ao sonho que a abraça ou à intranquilidade que a submete ao domínio de uma inspiração que se percebe não ser forçada. É que dentro de cada poesia que Soledade Summavielle deixa nas páginas desde seu livro, há sempre qualquer coisa mais do que uma simples moldura, qualquer coisa mais que no seu íntimo se acoberta e desde ali comanda a sua imaginação. São gotas de cristalina água onde flutua a sua ansiedade. As suas poesias são como – mal comparado talvez – as impressões digitais do seu intenso sentir. Quase sempre, por esse meio, se faz ideia, mais ou menos aproximada, da emoção que domina o poeta.

E os poetas, quando, efectivamente, são poetas, sabem vibrar quando no seu mundo interior se oculta a força irresistível da sua inspiração. A autora vive no ambiente de um notável sentido lírico. O lirismo que nas obras desta poetisa se apresenta em plano especial, se se tivesse usado nos tempos que passaram além de meio século quando o tal lirismo se apagou por completo, teria conseguido resistir mais demoradamente. É um especial lirismo que satisfaz os mais exigentes, até mesmo aqueles que se deixaram conduzir por um modernismo sincero. Se os poetas desse tempo escrevessem deste modo, estou convencido de que este lirismo não seria desbancado com tanta rapidez como o outro o foi por inútil e insuportável. Dá vontade de perguntar aos que dizendo-se poetas se encontram às esquinas e, por vezes, incompreensíveis maneiras de poetarem, o que pensam a respeito dos que, como acontece com esta poetisa, sabem mostrar o que sentem da forma como esta o faz. Devo dizer sem receio de exagerar que, de continuar assim, Soledade Summavielle enfileira entre as nossas melhores poetisas.

Graficamente bem apresentado, este volume faz parte da colecção de Poesia “Convergência” e foi editado pela Sociedade de Expansão Cultural.”

 

Alfredo Guisado

República, 9 de Dezembro de 1966

 

 

“TUMULTO – De Soledade Summavielle, é o segundo volume desta nova colecção e, nele, a autora, revela num plano mais alto todas as virtualidades com que se apresentara no seu livro de estreia: “Sol Nocturno”. Estamos diante de um autêntico temperamento poético, diante de uma rara sensibilidade poética que reage, de igual modo, às solicitações da sua inquietação interior e às apetências do mundo que a cerca. Dentro de um ritmo poético de estrutura clássica, Soledade Summavielle dá-nos autênticos momentos de poesia humana, actual, viva, palpitante, com uma renovação do sentido interior das palavras, com a apresentação de uma imagética toda pessoal, como pessoal é a temática do quotidiano da escritora. O seu clima poético é o diálogo interior. Mas esse diálogo interior não a fecham para a realidade viva do dia a dia. Daí que nos poemas curtos mais intensivos e impressivos, nós possamos ver o drama, a angústia, a revolta perante a incompreensão de um mundo hostil para o seu semelhante. Que belo poema “O Amolador da Minha Rua” para documentar o que aqui fica dito sobre o lirismo, humano até ao cerne. Não se julgue que estamos diante de uma reacção demagógica ou de uma poesia demagógica. Por Deus – nada disso. O que há é uma confiança no destino superior do homem e um halo de esperança, cristianíssimo, a dar valor à emoção do poeta. Em cada dia que se rasga no céu pode haver um poema de bondade, de amor, de compreensão e de carinho. Esta a verdadeira atitude da escritora. Esta a sua mensagem de escritora lírica, uma das mais válidas, nas afirmações mais recentes. Poesia humana para um diálogo humano, por vezes lírica, por vezes feita de ansiedades, mas sempre dramática e sofrida interiormente. Soledade Summavielle é possuidora de um “tonus” poético inconfundível. “Tumulto” é disso uma prova real.”

 

Diário do Norte, 29 de Dezembro de 1966

 

 

“Soledade Summavielle, a autora de “Sol Nocturno”, que, no dizer de João de Araújo Correia, canta de princípio ao fim a odisseia do Amor, publicou agora “Tumulto”. A mesma sinceridade emocional que João Gaspar Simões assinalou no seu primeiro livro, é ainda o valor maior desta colecção de poemas igualmente “sentidos” e “trabalhados com refinada sensibilidade.””

 

Urbano Tavares Rodrigues

O Século, 4 de Janeiro de 1967

 

“… Ninguém, em consciência, pode negar aos versos de Soledade Summavielle apuro e vibração íntima.”

 

João Gaspar Simões

Diário de Notícias, 5 de Janeiro de 1967

Críticas do Livro - Tumulto 

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