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“Alguns livros de poesia ultimamente vindos lume, entre nós, confirmam-nos na certeza de que a liberdade poética se não há-de cingir, compulsivamente, ao avançar de processos inaditos e se há-de compaginar muito bem com roteiros antigos trilhados a passo novo.

Aqui temos Sagitário de Soledade Summavielle, uma poesia com larga experiência entregue a livros altamente conseguidos com esse maravilhso Canto Incerto que a Academia das ciências justamente premiou. Neste seu novo livro se as constantes se acusam no domínio formal renovam-se as vivências. O título de um dos seus melhores poemas – Solidão povoada – dá-nos a chave do livro todo. Com efeito, um disrição recessiva toma o lugar de alma no desabrochar dos poemas dadivosos; o lugar-comum mas significativo de mistério poético, muito do agrado dos disc´pulos de Bremond, realiza-se toda a vez que o poeta conta em primeiro termo com a vida interior, vigília fraterna em torno do humano destino, solidão ou soledade enquanto a feira ruidosa os processos se agita em torno de André Breton e dos concretistas que dão tratos de polé às palavras ensonadas dos dicionários a ver se elas despertam para maravilha nunca vista. Este lvro Sagitário é de facto mensagem de fidelidade à vida, ao amor, ao sentimento da natureza sempre toldado pelo eterno romantismo que já sobrepairou os versos de Virgílio.

 

Abre-se a magnólia branca da manhã

Tocada de neblina,

Visão de uma criança loira, emocionada.

E logo se imagina

Que todo o espaço é seu, mas que o olhar é pranto

Marcando o róseo despertar mudo de espanto,

Num rosto de menina.

 

Soledade Summavielle pode louvar-se naquela plenitude em que a arte e a vida atingem a calma unidade de uma expressão “que se basta e nos basta” como gostava de dizer José Régio. Este livro Sagitário, além de primorosamente editado, é uma espécie de resumo de toda a arte da autora e deixa-nos o precioso ressaibo de solidão povoada, de clima habitável e dignificante, de qualquer coisa que é mais do que literatura porque é enquadramento e aceitação da vida ao modo como Goethe a queria aceite com todas as grandes e ínfimas circuntâncias.

 

João Maia

Brotéria, 3 de Fevereiro de 1974

 

 

“... Onde não cabe o ódio ou o rancor,

Carga emmotiva e uma voz que ergue

Para cantar o amor”.

 

É dentro deste zodíaco que diz ter nascido a autora, Soledade Summavielle, autêntica poetisa. Pelo baptismo das musas e pelo acendrado amor às formas em que o verso se plasma nos seus poemas e nos seus livros. Agora neste “Sagitário”, de igual modo o tendo sido em “Búzio” – também aqui reclamado por seus méritos, e graça poética.

Cheia de mensagens em seu interior anímico – alfobre de beleza e de canto que o amor ensina a tanger, nem que este nublado de saudade ou erguido na chama duma esperança que o tempo dilui... esta poetisa é enormemente superior ao que hemos lido no género.

Moderna sem ousio de caír no gravoso da pecha do intectualismo, como sem perder a graveza do sério e do que é educativos ou moral, Soledade Summavielle dá-nos mais um exemplo de como se pode lidar com musas sem cometer pecados…

Como é tocante, e ao mesmo tempo profunda a sua poesia!

- “Dois lagos de água doce a reflectí-la / Teus olhos cor de céu sem tempestade - / onde me banho e nado convencida / Que baptizo de aul os meus pecados / E renasço das águas redimida” -  aqui temos uma amstra (tirada ao acaso) do conteúdo lírico, e sentimental, do seu intimismo,como cultura o género literário em que se impôs, há muito, aos seus admiradores de estro.

Dir-se-ia quedos mínimos ela consegue extrair poemas de escol, como neste “Esboço”:

“ Dia a dia construo a tua imagem / Desenho-te o olhar / Em traços esbatidos, / O riso, o gesto, ou chama, / Ao sabor dos sentidos”.

- Ou então é ver como reduz a sínteses admiráveis dos grandes feitos:

“ Tão simples e tão densa em seu mistério. / A palara “Natal”… / Por que estrada de uz / Vagueia e nos conduz / Seu timbre de cristal? (...) Um Deus que foi menino / Viveu, sofreu e amou / Impondo-se um destino: - / O de salvar o mundo / Que ele próprio criou, / Poeta, sonhador e Vagabundo…”

Ela mesmo se define em “Libertação”: - “Ser estrela marinha / Bolando na corrente / Ou duna onde poisassem / Gaivotas, docemente”.

Apontamos-lhe ainda “Luz verde para o sonho” – (Soneto magistral, opulento, e que logo nos trouxe à memória Florbela Espanca em toda a sua grandeza de poetisa das distâncias e das situações interiores.

E terminamos estas nótulas sem ensanchas de crítica, trazendo para aqui esta “Carta de Amor”, que Soledade Summavielle dedica à sua terra (-Fafe – Verde Minho – Portugal).

- Terra querida:

 

A minha alma é do céu.

Mas o meu corpo,

Esse há-de confiar-se

Às suas leivas quentes

E há-de abandonar-se

Ao teu denso contacto, terno e lasso,

Em hora derradeira,

Até florescer do teu abraço”.

 

O Livro, com capa (sugestiva: - cavalo e seta – presteza, como manda o setro da autora) é editado pela “Sociedade de Expansão Cultural” e foi impresso (exemplarmente) nas oficinas Gráficas da Livraria Editora Pax, de Braga.

 

J. C.

Correio do Minho, 6 de Fevereiro de 1974

 

 

Se tivesse de definir, em duas palavras, o que penso acerca deste último livro de Soledade Summavielle, Sagitário, escreveria apenas: “Lirismo Perfeito”. E talvez me ocorresse um verso meu, de Poemas, “escadarias de água para o coração”, para figurar a nota cantante e mineral, transparente e corrente, brotando límpida, do espaço, para a emoção que recebemos da poesia toda, deste livro.

Disse João Gaspar Simões, a propósito de Búzio, desta mesma autora: “Ah, Descartes, como tu gostarias de ler a poesia da autora de Búzio (Sociedade de Expansão Cultural) se ainda fosses vivo, se fosses português e se gostasses de poesia!”

Na verdade, se o lirismo, o perfeito lirismo, é um exacerbamento do subjectivo, Soledade Summavide bem o exprime. Quando o Poema bate à porta, eis como ela o vê: “Em circuito do luz e a alma acesa”: Forasteiro de lendas e de luas, / De gestos verdes, caminhando a medo, / Solta palavras ensaiando a voz / Em que nos há-de dar o seu segredo.

Esta é a corporização do Invisível. A consciente correspondência com o Anjo Branco da Poesia — expectativa e vidência, em que o poema se torna absoluto, em que com o poeta se totaliza. Tão rica estou agora, tão pejada / De tudo que inventei desde criança / Que me besto a mim própria recordada / A desejar o que se não alcança.

Se Deus não procura senão quem tem Deus em si, também a Poesia não procura senão quem tem a Poesia em si. Em Soledade Summavielle é, a Poesia, música que se não quebra nas imagens, que se colore nas palavras, que se fluidifica nas coisas. “Nunca estou só que uma flor / Vem fazer-se conhecida / E um sorriso flutuante / Vai enchendo a minha vida / Nem quando a noite aparece / e o dia morre por ela, / Me abandono à solidão / Antes acendo uma estrela / Quem me protege no escuro / Com os seus cinco sentidos? / Quem vela o meu corpo e e alma / Lado a lado adormecidos? / Aquela luz que se apaga / No horizonte cansada / Quando me entrega aos cuidados / Do olhar da madrugada.

Subida que se efectiva de modo imperceptível—aquela a que nos conduz a Poesia de Soledade Summavielle. Da qual ascensão nos surge e se abre um mundo cristalino, metafísico, onde todavia cabe a dor, a solidão, que, por seu grande talento de exactas construções e exactos voos, se conclui flutuante e iluminado.

NATÉRCIA FREIRE

Diário de Notícias, 14 de Fevereiro de 1974

 

 

 

A autora de Sagitário afirma-se, mais uma vez, o que sempre foi: poetisa cem por cem.

 O Poema é, para ela, o súbito acontecer. Algo que bate à porta. Fantasia e emoção. Imagens belas, delicadeza de sentimentos.

“Tudo o que nos atrai e aproxima, / É puro sonho ou imaginação. / No nosso olhar é que há-de estar a beleza, / Dentro de nós, a força da ilusão”.

Admire-se a simplicidade clássica e a poesia de sempre: “Aspiro o dia como quem aspira / Um aroma do flores que se entornasse...»

Senhora dum estilo muito seu. A poesia é acontecimento, aproximação, algo que vem de fora e muito que lhe sai do mais íntimo da alma.

“Arauto”, 14 de Fevereiro de 1974

 

 

 

De facto, irradia-se das páginas deste novo livro de poemas, de Soledade Summaviello, “Sagitário”, uma espécie de sol maduro, que melhor clarifica os seus versos, através de imagens que nos conquistam, inteiramente. Trata-se, pois, de uma poetisa que não admite retórica. Tudo nela se identifica com um sentido determinado, harmonioso e amplo, bem expressivo, e que, de obra para obra, se afirma num acto de superação, não permitindo qualquer retrocesso a formas transactas.

O amor é uma constante nos poemas de Soledade Summavielle, poetisa que tem uma noção exacta, uma definição precisa, do que sejam, realmente, o poético e o prosaico. Há, na verdade, na sua obra uma integridade e intangibilldade poética, diríamos a preeminência de genuíno lirismo, sem que, no entanto, este nos surja ultrapassado, despido daquele moderno idioma, que é, exactamente, uma das mais delicadas características da capacidade criativa de Soledade Summavielle. A poesia é, de facto, para ela uma mensagem de serena beleza transmitida em versos que, verdadeiramente concentram, por inteiro, a funda emoção da poesia.

“Sagitário” é, pois, uma obra que se distingue por um cunho de autenticidade. São poemas que não vivem de meros artifícios ornamentais. Não se perde a autora pelos caminhos desregrados da inovação, mas, nem por isso deixa de ser exigente cultivadora da linguagem poética, mais actual, linguagem directa, magoada, idealista, vibrante de calor humano, linguagem permanente, tão permanente como a alma humana que continua a ser, nestes tempos em que o homem consegue fotografar a superfície de Marte, a mesma que era em tempos idos.

Século, 18 de Fevereiro de 1974

 

 

Críticas ao Livro Sagitário

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