top of page

"Há em todo o semblante humano, uma história ou uma profecia.

E afigura-se-nos que nada mais certo dentro destes parâmetros, para definir a poesia de Soledade Summavielle, já no mais recente volume que publicou — Escrínio — já naqueles que após 1963, deu à leitura do crítico atento. Efectivamente, toda a sua poesia reflecte o semblante humano de pessoa interessada no seu semelhante e no mundo que o cerca. Daí a magia histórico-profética de todos os seus humaníssimos poemas, numa adesão que nós damos ao seu real quotidiano, isto é, ao seu lirismo. Soledade Summavielle, afirma-se com propriedade, poeta de real sensibilidade, poeta de real cerne criador, poeta de diálogo íntimo e de apreensor sentido de vivência a si externa.

Daí a história que flui nos seus versos e o sentido de profecia que as palavras trazem agarrado, na consecução de todos os mistérios que presidem à demiurgia literária. É este conjunto de virtualidades que tornam diferente esta poesia poética e a distinguem da poesia ôca e retórica que nem comunica, nem responde à inquietação interior de quem a lê, para aderir e comungar com o escritor que lhe pretendeu dar o seu mais íntimo, o seu mais anímico.

A poesia de Soledade Summavielle traduz vários estados de alma, cristaliza-os, depura-os, enriquece-os, para que cada verso tenha a sua vivência e para que o conjunto poético resulte ou deflagre em realidade transcendente. Daí poder ela declarar no inicio de «Âmago» definindo-o ou definindo-se — «O íntimo do ser, essência, alma,— Recôndito cálice transparente,---- na dimensão da hora densa ou calma --- Do dia incoe-rente.»

Repare-se em como definindo-se neste estrénuo lirismo, Soledade Summavielle se aproxima da proposição de Coleridge!

Acompanhando-a, podemos compreender a estranha jardinagem que é para a autora, a arte poética, ou então a sedução intima do mundo exterior quando chega uma nova primavera. Aí sim, encontrareni «atávico encanto» a que faz referencia.

Os seus «analgésicos para um dia negativo» hão-de ser os apelos ainda e sempre às coisas naturais:

«Dai-rne o lírio da noite e o seu luar— A centelha dum súbito momento — Um pedaço de sol, de mar e vento --De tudo possa embriagar

A força telúrica que povoa os seus poemas, a fragrância destes versos, a todos os títulos ou motivações, autêntica e só poesia.

Não há hiatos, nem versos pobres, nem poemas menores. Só poesia, bela e admirável poesia que na referência de Harnan, aqui legitima-mente citada, «é a língua materna da humanidade

 

Recorte da Página da Mulher Jornal da Madeira — Funchal

 

 

Depois de «Movimento de Asas», publicado em 1984, a fecunda poetisa fafense edita o seu décimo livro de poemas intitulado «Escrínio».

«Assim te nomeei e te confio

Poemas soltos de sensações minhas

Chegados à varanda da memória

Como se fossem bandos de andorinhas.

 

O livro é um escrínio quando guarda

Dentro de si o sonho e a ilusão

Em versos de poeta — canto alado —

Chama viva e segredo de artesão.»

 

Trinta poemas dedicados ao amor, à saudade, à ventura, à ausência ao sortilégio e à evocação.

Mais urna obra a juntar às outras com que esta poetisa, de reconhecido mérito nos tem brindado. 


Correio de Fafe, 25 de Março de 1987

 

 

Longo caminho percorreu até agora esta distinta poetisa desde a ublicação do seu primeiro livro, «Sol Nocturno», em 1963. Mais tarde, depois de «Tumulto» e «Âmago», e com «Canto Incerto», distinguido com o Prémio da Academia de Ciências de Lisboa, Soledade Summavielle era já uma poetisa de maturidade lírica e artística incontestável. A crítica começou a considerá-la um valor invulgar da nossa poesia e a enaltecer as raras qualidades que contribuíram para uma segura afirmação da sua personalidade através de obras que foi publicando.

«Escrínio» é um novo livro de poemas da ilustre poetisa fafense, que continua a afirmar-se numa linha ascensional. E não, apenas: o substracto, a temática, a forma anímica de um lirismo natural, enriquecem a sua Arte de novas imagens, como se novos sentimentos des-pertassem (e despertam), na sua alma, que se enternece com a beleza a bondade, o amor e a saudade.

Estes sentimentos são ricos e impetuosos em Soledade Summa-vielle. Bastaria falar no amor. Só ele domina um universo de emoções que transportam a poesia ao ponto trascendente da sua genuína expressão estética: É ao Amor que brindo, como sempre. | Respiro o seu aroma flutuante I Na pureza orvalhada do seu canto I E ergo a minha taça transbordante!

Nada se perde no universo íntimo e sentimental da poetisa. Há presença constante nos horizontes longínquos e chamamentos de ternura e saudade de coisas, de seres, de lembranças. Nada se perde. Tudo se guarda e acarinha: O livro é um escrínio quando guarda I Dentro de si o sonho e a ilusão I Em versos de poeta canto alado 1 Chama viva e segredo de artesão.

E o futuro?

Para o poeta o mundo que há-de vir ou a descobrir, não esmorece os liames que prendem a alma ao passado. Dir-se-á, com certeza, que para a autora de «Escrínio», o passado é uma espécie de património a preservar no coração e na alma. E aí está a Saudade: É a sede de uni tempo já vivido. E aí está: Dorida evocação de um bem perdido...

Quanto bem, quantos tesoiros no escrínio do passado, um universo de recordações que nos vai fugindo das mãos com o decorrer do tempo e as desilusões que ganham dimensão nos caminhos soltos do destino.

Quando a minha saudade chora alto, a poetisa vai aos caminhos do passado por onde sonhou e amou para se sentir Envolvida MIM manto de carinho. 

 

 

A Saudade é uma temática predominante nesta poesia, aqui e além a lembrar Pessoa, uma força viva de sensibilidade. 

Soledade Summavielle foi sempre poetisa, porque poetisa nasceu. Chegamos a escrever esta verdade muito antes da publicação do seu primeiro livro de versos. Admirávamos a sua sensibilidade de Mulher o fascínio que a Arte exercia sobre o seu espírito, num meio onde sempre quis viver mas que limitava a sua ansiedade, os seus voos, os seus sonhos de artista. Por isso escrevemos um dia: «...Na luz que lhe ilumina o caminho da arte e da vida - Poetisa e Mulher». Verdadeiramente antológicos são muitos poemas de Soledade Summavielle, de quem António de Séves firmou uma opinião certa e magnífica: 

«Mulher, esteta, conseguida no encontro do equilíbrio entre o sonho e a realidade...». 

Belos, estes versos: 

 

 

Na vibração que ponho nos seus versos 

Onde perpassa o sonho e o delírio, 

No amor, na saudade ou na alegria, 

Eu ardo dia a dia, como uni círio! 

 

 

Uma forte personalidade artística se afirma neste belo livro de excelente apresentação gráfica.

 

SOUSA MACHADO

Notícias de Guimarães,10 de Julho de 1987

 

 

 

 

É Amor que brindo, como sempre. 

Respiro o seu aroma flutuante 

Na pureza orvalhada do seu canto 

E ergo a minha taça transbordante! 

 

 

Jóias Poéticas em hino ao Amor - eis como se poderá sintetizar, prosaica brevidade da recensão crítica, o último livro de poemas ilustre poetisa fafense Soledade Surmmavielle, intitulado «Escrínio». 

A palavra encerra em si mesma o conceito de pequeno cofre para guardar jóias ou outras preciosidades. 

Soledade Summavielle escreve, designando, adjectivando, o escrínio:

 

 

«0 livro é um escrínio quando guarda 

Dentro de si o sonho e a ilusão 

Em versos de poeta— canto alado 

Chama viva e segredo de artesão». 

 

 

Poética do Amor, mas também da Beleza, da Saudade, da Esperança, quiçá, as outras faces da esplendorosa moeda. Discurso da ausência, do bem perdido que busca na paisagem, na vivência, no estar em Fafe o bálsamo para as dores da distância - no espaço e no tempo. 

 

 

«Quando a minha saudade chora alto, 

Procuro uni analgésico no Minho.

Ali, na casa-mãe, a dor acalma, 

Envolvida num manto de carinho.

 

 

Uma ternura pacificadora 

Escorre sem cessar, de todo o lado. 

Desfolho o álbum das recordações 

E revivo os encantos do passado». 

 

 

Soledade Summavielle não cessa de encantar-nos com a sua poesia burilada, nascida do mais recôndito da alma, esplendorosa, feita de sentimentos, no que de mais puro, lírico e místico eles encerram. Apetece a demora num «sussurro ondeante de gaivotas / Sobrevoando as rochas junto ao mar». Apetece ir, apetece ficar neste oceano de sereníssima poesia de quem, estremosamente, carinhosamente, «vai cultivando a arte» com emoção, «as flores de altura que esta vida tem» - nas próprias palavras da autora, que com elas, sobrevive, nelas, palavras. 

Ler Soledade Summavielle é ficar, é demorar-se, a alma em beleza, num sortilégio impenetrável, magia de sílabas a cantar a voz do coração. Coração habitado - pela harmonia, pelo oiro do encantamento, pela fonte, pela luz, pela «esperança cintilante». 

ESCRÍNIO é ainda (e sempre) Soledade Summavielle, em corpo inteiro. Voz do coração, chama aberta à Vida, inteireza ética e estética, devoção total à poesia. 

 

«Na vibração que ponho nos meus versos

Onde perpassa o sonho e o delírio,

No amor, na saudade ou na alegria,

Eu ardo dia a dia Como um círio!».

 
ARTUR FERREIRA COIMBRA

O Desforço... Fafe 28 de Maio de 1987

 

 

 

 

Nestes poemas de intimismo, a facilitarem a identifcação de quem os criou, depara-se com o forte e inconfundível significado do vocábulo eleito na composição de versos de invulgar riqueza expressiva, com a elegância formal, a cadência e a musicalidade de belos efeitos correspondendo fielmente aos impulsos da alma, o arranjo estrófico a realçar o conteúdo da mensagem. Mensagem benfazeja, porque apazigua quem a recebe.

Soledade Summavielle convida à reflexão e ao diálogo no percurso da sua poesia onde vibram emoções e sentimentos, com figuras de estilo perfeitas no comunicar o entusiasmo criador de Poeta que mantém viva a personalidade e, no exprimir quanto de grandioso no íntimo lhe sucede. Apesar do tratamento romântico, evita subjectivismos que seriam a exaltação orgulhosa do «ego», antes se eleva pela humíldade.

 Escrínio, com ternas inesgotáveis e eternamente válidos, é todo um poemar português porque acentuadas as mais nobres tradições do nosso povo no amor a Deus, á terra, à família, no culto da amizade, na dotação ao próximo, na generosa revelação de quanto justifica a existência. E tudo conseguido numa harmoniosa conjunção de saudade e esperança convergindo na alegria. A primeira não surge em forma de morbidez, mas sim como renovada vivência dos bens recordados. A segunda afirma, consolando o preserte, a vinda de outros bens a experimentar.

Faz bem, na realidade, a leitura deste livro.

 

António de  Sèves Alves Martins

Revista Portugueses, ... Junho de 1988

 

 

Escrínio, de Soledade Summavielle: O livro é um escrínio quando guarda /  Dentro de si o sonho e a ilusão / Em versos de poeta...

Soledade Summavielle tem já urna obra vultosa de poesia, e dos seus versos,  formalmente evola-se a convicção, hoje tão contrariada, de que a poesia deve ser a expressão da vida, e de que não pode haver expressão digna de escuta que não seja portadora de uma mensagem, de um segredo, de um estímulo. Poesia, entre outras prendas, é comunicação, convivência. Neste livro afirmam-se duas constantes: — a lembrança, e a esperança. São poemas de boa concentração, sem derrame retórico, colheita de sensações e momentos de um passado de estesia e de gratitude para com a vida; e estes poemas ligam-se a anelos de vida a viver-se ainda. A soledade transfigura-se em saudade, e esta não se estiola em si mesma, volve-se exortação. Livro límpido, de expressão claríssima, com leves toques de modernidade bem assimilada, sem jamais ceder ao aventureirismo de processos que funcionam por si, sem nada dentro, a não ser as palavras em revoada. Claro que as folhas caídas duma árvore podem desenhar algum tapete por acaso gracioso. Mas a poesia forte, bem personalizada, estou em que há-de sempre prender as atenções de leitores dóceis à beleza desprevenida e simples. Com este livro-ESCRINIO, Soledade Summavielle mantém-se na sua linha de originalidade, graça, confiança na vida e na receptividade dos seus leitores. Lido aqui, à beira do Tejo, volto-lhe a última página para a face da Torre de Belém e parece que o livro continua ali, na lisa pedra trabalhada, nos nítidos coruchéus definindo a tarde, no eterno classicismo que em tudo vinga insinuar-se... 


João Maia

Brotéria,  Outubro de 1987 

 

 

Críticas ao Livro Escrínio   

                                                                                                                    Contactos   Ficha Técnica   Mapa do Site

 

© 2013 by BIBLIOTECA MUNICIPAL DE FAFE. Proudly created with Wix.com

bottom of page