Soledade Summavielle
A voz do Coração
Igualmente natural quando faz poesia, Soledade Summavielle, a autora de “Canto Incerto”, oferece-nos a sua alma rica e poliforme:
Canto como que ri,
Um canto primitivo de iludida.
Canto como quem chora,
Um canto vertical de alma oprimida.
Tão incerto o meu canto e todavia,
É nesse elementos discordantes
Que procuro as notas dissonantes
Dos acordes perfeitos da harmonia.
Prefere os velhos moldes tradicionais, onde se move com inteiro à vontade, alma lírica por natureza, para quem o Belo e a Arte são acessíveis, encontrando-se ao alcance da sua mão.
De tudo que na vida grita alto,
Há vibrações e sons dentro de mim.
Sinto bater o coração do mundo
E sempre foi assim
Imagem e pensamento fazem um só:
Viajo como o vento em voo livre,
Sobre o mar de ilusões que me procura.
Que perturbante e dissolvente espuma
À flor da onda iluminada e pura! …
O facto de ser poetisa sem esforço nem artifício, fantasiando e sentido com a naturalidade de quem pensa ou vive, faz com que os seus poemas atinjam um nível de arte raras vezes alcançado ainda pelos maiores poetas. Estilo trabalhado a primor, cadência e ritmo ao mando das emoções expostas sem gritos nem desvairos, sem mentiras ou falsos ouropeis, a poesia deste livro afirma-se clara, harmoniosa, pura e ática, dum aticismo que exige simetria, sobriedade, domínio.
Diário do Minho, 23 de Dezembro de 1969
Sensibilidade sempre aberta a de Soledade Summavielle.
Captando beleza longe ou perto, o seu canto tem força e irradiação, solidariedade e ternura. Tão diferentes, de forma e conteúdo, os seus poemas dizem sempre respeito ao leitor, não por directamente lhe serem dirigidos, mas porque se podem reflectir nos corações acordados e até nas inteligências despertas. Nada frívolo, tudo verdadeiro, sem complexos ou hermetismos. Este verdadeiro na poesia se eleva e transmite, com uma pureza que logo conquista todas as adesões. Veja-se:
Sereno corre o rio,
Distante e alheado.
Nos sonhos que desfia,
Cabe o canto de paz e harmonia,
Da paisagem e céu dum Eldorado.
Corrente de ilusão,
Caudal de ansiedade,
Nenhuma luz é forte na razão,
Nenhum sonho do mundo tem idade.
Tudo vive de esperança.
Numa estrela fiel.
Está no tempo o milagre que se espera
E viajamos num barco de papel.
Vive Soledade da esperança e da realidade, vive dos seus sonhos e das suas certezas, completas ou incompletas, assim como para discursivamente, chegando, até, em Biografia e Posfácio”, um do mais belos poemas do volume, na oferta ao povo do seu querido Minho, a ser povo no destino da sua própria poesia.
Valioso volume de solidariedades, “canto Incerto” (Ed. da Sociedade de Expansão Cultural, in col. “Convergência”, e capa de Júlio Gil) a obra está afinal de acordo com a autora, que nestes versos, por exemplo, se confessa firme e magistralmente:
De tudo que na vida grita alto,
Há vibrações e sons dentro de mim.
Sinto bater o coração do mundo
E sempre foi assim.
Guedes de Amorim
Século Ilustrado, 27 de Julho de 1970
Críticas do Livro - Canto Incerto (continuação)
Contactos Ficha Técnica Mapa do Site
© 2013 by BIBLIOTECA MUNICIPAL DE FAFE. Proudly created with Wix.com